sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Exército engajado contra seca no nordeste.

O Exército Brasileiro está construindo poços artesianos em diversos estados do Nordeste, de modo a assegurar o acesso à água potável para as famílias flageladas pela seca. A iniciativa, resultante de um convênio entre os ministérios da Defesa e da Integração Nacional, demonstra que com investimentos muito menores que os do controvertido projeto da transposição do rio São Francisco é possível atingir um resultado mais satisfatório, garantindo o fornecimento de água nas áreas mais áridas da região.
A perfuração e instalação de cada poço têm custo estimado entre R$ 10 mil e R$ 30 mil, variando de acordo com a profundidade e o tipo de solo, sem considerar os custos adicionais para a construção da edícula, a estrutura instalada para abrigar o poço – uma área de 100 metros quadrados cercada com arame farpado, com uma casa de bombas, suporte para uma caixa d’água, torneiras e ligações. A eletricidade para os sistemas de bombeamento pode ser provida por paineis solares, geradores eólicos ou a gasolina (G1, 19/09/2013).
O projeto envolve a perfuração de 200 poços artesianos, no Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Paraíba e Piauí, sendo 40 poços em cada um. As obras têm sido executadas por cinco unidades subordinadas ao Comando do 1° Grupamento de Engenharia. Até meados de setembro, 42 poços já haviam sido perfurados e instalados, no RN (Caicó, Equador, Lagoa Nova, Parelhas, São João do Sabugi, São José do Seridó, Rafael Fernandes, Encanto), Ceará (Crateús e Tauá) e Paraíba (Juazeirinho, Solânea e Cajazeirinhas).
Os poços estão sendo construídos em duas fases: na primeira, 60 deles serão construídos com os meios próprios existentes nas unidades militares; na segunda fase, os 140 poços restantes serão perfurados e instalados com a aquisição de perfuratrizes e outros equipamentos novos.
Dentre os poços já em construção, destaca-se o do Sítio Juá, no município de São João do Sabugó (RN), que é o primeiro a utilizar energia solar em caráter experimental e deverá beneficiar 32 famílias da comunidade rural. O poço tem 60 metros de profundidade e uma vazão de 1.000 litros por hora. Foi instalada uma bomba hidráulica alimentada por energia solar, que transportará a água do poço para uma cisterna de 10 mil litros de capacidade.
Enquanto isso, a prometida transposição do São Francisco segue com o cronograma bastante atrasado em relação à previsão inicial de o projeto estaria concluído até 2012 – o prazo atual é o final de 2015. Além disto, o custo do projeto quase dobrou, passando de R$ 4,5 bilhões para nada menos que R$ 8,2 bilhões, segundo o último balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), após reajustes e aditivos realizados. Segundo as expectativas, o projeto deverá levar água para 12 milhões de pessoas.
De acordo com o Ministério da Integração Nacional, responsável pelo projeto, as obras foram novamente contratadas, sendo que a última pendência só foi resolvida no último dia 27 de setembro, com a assinatura da ordem de serviço da Meta 3N, referente ao Eixo Norte do projeto. Segundo o ministro Fernando Bezerra Coelho, “assinamos o contrato e demos a ordem de serviço para o último trecho que faltava ser remobilizado. Este trecho começa em Mauriti, no Ceará, e vai até São José de Piranhas, na Paraíba. Um investimento na ordem de R$ 587 milhões, que será tocado pela [construtora] Queiroz Galvão S.A. E vamos agora correr na execução para que a obra esteja 100% concluída até o final de 2015 (Diário de Pernambuco, 27/09/2013)”.
O ministro alegou ainda que os atrasos na execução do projeto se deram em razão do não-cumprimento dos contratos pelas construtoras licitadas. Além disso, a relicitação de lotes inteiros causou ônus ao andamento do projeto, que ainda está com menos de 50% das obras previstas concluídas.




O contraste entre o projeto tocado pelo Exército e o da transposição do São Francisco reforça os argumentos dos críticos deste último, entre os quais se alinhava a grande maioria dos especialistas em Hidrologia e Hidrogeologia. Para estes últimos, um grande programa de construção de poços artesianos seria uma resposta descentralizada e de custo/benefício muito mais favorável, para as necessidades de abastecimento das populações das áreas mais secas do Nordeste, do que um megaprojeto como a transposição (cujo impacto direto, ainda por cima, não vai muito além do entorno dos eixos dos canais de irrigação). Desafortunadamente, como é uma tradição nacional, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva se aferrou ao megaprojeto e passou por cima das considerações da maioria dos especialistas. Os custos, como de hábito, são pagos pela cidadania, em recursos dilapidados e sacrifícios desnecessários.

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